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Geografia – a grafia do que chamamos Geo. Antes com metáfora que com
etimologia dizemos que estamos diante da grafia de Gaia. Ela, Gaia, sabe
escrever e desenhar. Ela coloca em seu próprio corpo todas as tatuagens que
quer – e às vezes que as que não quer. E assim se apresenta aos outros
deuses. "Olhem como estou bela" – diz Gaia todinha tatuada.
Gaia tem dois métodos de tatuagem. Um método é do cosmos, outro, das
guerras. Um é divino, outro é meramente humano. Quem sabe geografia sabe a
linguagem dos deuses e dos homens. Caso contrário, não sabe geografia.
Quando olhamos os vulcões, montanhas e geleiras vemos a grafia dos cosmos.
Quando olhamos os animais e nos deparamos com o ornitorrinco, achamos que
Gaia quis alguns adornos não só de beleza, mas que provocassem o riso. Que
senso de humor! Quando olhamos as divisões de países e as separações entre
miseráveis e ricos, vemos que Gaia tem um espírito como o do fotógrafo que
faz jornalismo de guerra. Adora tirar a melhor foto, a foto mais bela do que
é mais horroroso.
Às vezes eu fico pensando que Gaia é malandra. Ela mesma que faz todas essas
tatuagens, ela mesma que, se passando por hippie, faz seus adornos, e então
responsabiliza deuses (outros) e homens por tudo isso. Ora, deuses e homens
não tem outro poder a não ser o de fazer cócegas na barriga de Gaia e,
talvez, provocar alguma tesãozinha ao esfregarem seus tanques de guerra, os
seus raios divinos, na púbis de Gaia.
Gaia não tem púbis? Gaia não é sexualizada? Não tem seio? Claro que tem,
vivo escutando a expressão "no seio da Terra"!
Há algo mais belo que ler a grafia de Gaia? Pela grafia de Gaia todas as
outras grafias se mostram. Quando olho bem no topo da cabeça de Gaia,
aprendo a grafia da destruição ao ver as geleiras desaparecendo. Aprendo a
grafia da produção. Quando olho os mares em volta de Creta aprendo a grafia
da filosofia. Quando passo a mão por sobre a grafia do globo todo entendo a
dinâmica de Gaia – a história. Quando olho Gaia dançando no Universo aprendo
física, astronomia, astrofísica. Ah, e quando noto – mesmo a contragosto –
aqueles cubículos que Gaia reserva para cada um de nós que morre, entendo a
medicina, a falta dela, a falha dela – e a pequenez nossa diante de Gaia.
Tudo que se precisa saber para ser filósofo, médico, engenheiro e prostituta
está em no saber da geografia, na Geografia – grafia e estudo da grafia de
Gaia. E como Gaia escreve! Todo dia. Não pára! Gaia não larga seu teclado um
segundo. Que deusa!
Os geógrafos são abençoados. A eles é dado um presente, o de ler a grafia
das entranhas das forças universais. Que bom ser geógrafo. Mas que tarefa!
Paulo Ghiraldelli Jr, filósofo.
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Paulo Ghiraldelli Jr.
O Filósofo da Cidade de São Paulo
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segunda-feira, 22 de setembro de 2008
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